segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

VERBETE DA VIDA

Quando minha filha nasceu, fiquei anormalmente ansioso para comprar uma casa.
Não que não tenha pensado nisso antes. Mas o nascimento me fez catalisar o sentimento.
Tinha o modelo ideal na cabeça, que seria comprar a casa, que pudesse ter espaço para minha mãe morar com a gente. Coisa que já havia combinado com a Angela. Antes de casar.
Todas as vantagens em um lugar só.
E consegui.
Comprei casa no Parque São Domingos, construí no espaço um apartamento para minha mãe, e a casa era bem interessante.
O processo de compra e construção teve certa dramaticidade.
Como sempre, estava endividado e sem dinheiro para fazer acontecer o projeto.
Pedi ao Jeff para fazer uma boa compra na cooperativa do BB, para que eu pudesse usar o dinheiro da alimentação, na construção do apartamento para a mamãe.
O trágico é que meu irmão começou a viver um drama com sua mulher: ela ficou muito doente, e faltou o dinheiro que foi descontado no seu salário, por conta das minhas compras na cooperativa.
Eu procurei empréstimo em todos os lugares que pude.
Lembro um momento desesperador.
Ele havia comprado um telefone, e não conseguiu pagar.
Eu disse que iria tentar pagar. E não consegui.
Uma noite, bem tarde, liguei para ele. E  não atenderam. Entendi que haviam retirado o telefone.
Na época, a Vania, mulher de meu irmão hospitalizada, em estado grave, minha sobrinha Bianca cuidada por outras pessoas.
Pedi para a Angela para que a Bia ficasse em casa.
Ela ficou um tempo. E um dia quando cheguei em casa, fiquei sabendo que a Angela havia ligado para meu irmão, pedindo que ele viesse buscar minha sobrinha. Ela disse que tinha suas razões.
Foi um dos dias que fiquei mais triste na minha vida. Até hoje me sinto mal quando lembro.
Fico pensando no estado de espirito do meu irmão, tentando encontrar alguém para ficar com sua filha. E eu desapontado e arrasado.
Em uma tarde daqueles dias, lembro que ficamos sentados no carro, em frente a Beneficiência Portuguesa em São Paulo, sem falar, enquanto esperávamos alguma melhora da Vania.
E nessa época, minha mãe não tinha ficado morando no apartamento que construí.
Um dia cheguei em casa, e minha mãe e a Angela haviam resolvido que não iria dar certo o modelo que pensei.
Minha mãe disse que iria ficar um tempo em Uberaba, na casa de amigos. Da Amália.
Era muito desesperador tudo isso.
Esse momento da minha vida me deixa abatido, triste, sem forças, até hoje.
Geralmente sinto vontade de chorar.
Só para completar o período trágico.
Um dia nossa amiga Amália liga de Uberaba pedindo para eu ir buscar a mamãe em Uberaba.
Nossa amiga foi importante nessa fase horrível. Não sei se conseguiríamos ter que resolver um lugar para minha mãe morar, com todos os problemas acontecendo juntos.
Neste momento entra o meu primo Jaiminho na história.
Minha mãe não poderia morar sozinha. Vestígios da doença já estavam bem presentes nela.
Ai aluguei uma casa próxima da minha, trouxe meu primo para morar com ela, no Parque São Domingos.
Claro que não deu certo.
Importante lembrar que eu passava todos os dias na casa deles. Levava alimentos e remédios, e pagava todas as contas.
Um dia recebo um telefonema do pai do Jaiminho aos gritos dizendo que minha mãe tinha se sentido abandonada.
Eu havia ficado dois dias sem eu passar na casa da dona Juracy, e provavelmente, ela havia se vitimizado no estado mais devastador possível.
Em outro tópico eu falo da época, anos antes destes fatos, que esse tio morava em minha casa, com o filho, meu primo.
E nas vezes que tive que arrumar casa e depois ter que pagar. Pai e filho sempre foram aberrações humanas.
Eu havia construído uma casa, depois alugado outra, quando inclusive pagava alimentação e todos os custos para a família do filho desse meu tio.
Bem, pelo menos, minha mãe ficou morando com esse meu tio.
Ai eu aluguei um apartamento para ela morar, no mesmo prédio que o do tio morava.
E enquanto isso, pagava aluguel e comprava alimentos para o Jaiminho, e para  minha mãe também.
Importante notar que enquanto isso eu tinha que trabalhar, e muito, em horários especiais. Inclusive madrugada.
Não sei como suportei tudo isso.
O que me dava força era a estrutura da minha casa. A Angela dava esse suporte.
Minha mãe passava mal muitas vezes e eu saia correndo do trabalho para levá-la ao hospital.
E essa rotina continuou por muito tempo.
Mas ai aconteceu um milagre.
Depois falo dele.