domingo, 15 de dezembro de 2019

VERBETE DA VIDA

Como eu era intelectualmente em fases distintas da minha vida?
Com 10 anos, com 17, com 29 ou 35, ou ainda com 45?
Eu lia Sartre com 15 anos. Lia Dostoievsk aos 16, e outros clássicos.
Estudava muito, e gostava. Lembro das apostilas com exercícios de física que eu curtia resolver.
Lembro de ter feito um projeto para reduzir os custos de manutenção no banco que trabalhava.
E lembro até hoje do relatório demonstrando os resultados para a gerência. Tinha 21 anos.
Em contrapartida lembro da dificuldade em me relacionar com as moças. Mesmo tendo sido seduzido pela vizinha de 29 quando eu tinha 16 anos. Eu era muito chato.
Acho que pela insegurança de ter 1.87 e pesar 59 quilos. Eu era muito magro. Sofri booling na minha adolescência inteira.
O ponto de virada foi quando entrei no Banespa e fiquei quase dois meses esperando ser chamado para assumir a vaga.
Engordei 15 quilos. Ai parei de chamar a atenção pela magreza e passei a ser olhado na rua como um rapaz bonito. Lembro que certa vez passei um tempo na praia e quando voltei, devia estar chamando muito a atenção: de repente todo mundo dizia que eu era lindo.
Ai, o que era um peso sair na rua, virou prazer.
Acho até que fiquei muito vaidoso com isso.
Nessa época, passei a frequentar um clube, o Banespa, que fazia parte das vantagens por estar trabalhando no banco. Jamais em outra circunstancia poderia imaginar frequentar um espaço destes.
Dá para imaginar minha autoestima na época. Trabalhando em um emprego que busquei, ganhando bem, comprei casa para minha mãe, engordei, e diziam que eu era muito bonito.
Faltava trabalhar de madrugada para estudar medicina, ou melhor, estudar na Pinheiros.
Entrei em uma USP mas não dava para trabalhar de madrugada em S.Paulo, ajudar a manter a família e estudar em Botucatu.
Acabei mudando de área.
Hoje eu sinto que o que eu queria não era estudar medicina e ser medico.
Eu queria pesquisar ciência natural. Fui fazer química  pensando nisso, mas acabei por acaso em TI.