segunda-feira, 23 de março de 2020

VERBETE DA VIDA

Será que ter a consciência permanente que vamos morrer, ajuda a envelhecer?
Será que se fizermos isso, da consciência permanente da morte, vamos ver o sentido da vida mais claramente?

Porque a vida parece tão cheia de espaços temporais vazios, que parecem ter anos de lapso.
Como eu queria ter memória para guardar mais coisas da vida que levei.

Por exemplo, no ano de 1964 em maio o que eu fazia? Como eram meus dias?
Acho que morava na Baixada do Glicério, estudava no Paulistano, acho que terceiro científico.
Trabalhava no Banco Riachuelo, na Rua do Tesouro 39, ou 41?

Pensava em estudar medicina.

Lembro de sair da escola e caminhar com o Mario até a Praça João Mendes. Ele seguia para pegar o ônibus para Guarulhos, na Praça Clóvis Bevilaqua.
Lembro que nas sextas a gente parava para comer um pedaço de pizza em um bar da Avenida Liberdade. Lembro do Plinio, um japonês que adorava bolero e tinha um caderno com as letras de todos os boleros gravados até então. Lembro do Silvio Nicola Fazenda, com quem estudava em casa para o vestibular de medicina, doMiguel, do João Carlos.

Lembro que inauguramos o Objetivo, na Praça da Liberdade. A famigerada sala 5M que foi extinta.
Tive aula com o Drauzio Varella, com o Roger Patti, com o Setsuo, com o Sales.

Acho que nunca tive tanta consciência da minha classe social como nessa época.
Eu trabalhava e meus colegas de cursinho, da classe média e alta me faziam sentir um deslocado infeliz e pobre. Tive que parar porque não tinha dinheiro para pagar.

E não é que se fizer um esforço dá para recuperar coisas aparentemente perdida no tempo?

No ano seguinte, 1965, eu comecei estudar no