terça-feira, 14 de abril de 2020

VERBETE DA VIDA

No começo da epidemia de HIV, com toda a preocupação com contaminação, independente da minha heterossexualidade convicta, pois não estava claro o ainda os vetores de contaminação, estava no Shopping Ibirapuera com a Angela e a Graziella, próximo de uma loja que nem lembro bem qual era. quando vi um rapaz,  fisicamente aparentando o protótipo do contaminado, segundo as mídias.

Magro, com o rosto pálido e bem magro. E aparentava também ser gay.

Na hora tive uma reação assustada, e segurei a mão da Graziella enquanto olhava para ele, incomodado em manter certa distância.

A reação dele até hoje me dói. E a minha me envergonha.

Ele calmamente se afastou, como que referendando minha atitude, e se dirigiu a um espaço vazio, onde um grupo de rapazes, funcionários das lojas do Shopping se dirigiram para abraça-lo.

Certamente sabiam que ele estava doente e demonstraram o carinho e afeto por ele.

Eu fiquei olhando, confesso com medo, mas ao mesmo tempo com vergonha da minha reação.

Até hoje esta cena não sai da minha memória.

Eu queria tanto ter tido uma reação mais civilizada. E pelo menos olhar para ele com simpatia e respeito.

Me odiei até hoje por isso.